A geração do match

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Dia desses resolvi dar uma segunda chance a alguns títulos literário lidos apenas obrigação em minha época de vestibular, e qual não foi a minha surpresa e posterior decepção ao me reencontrar com Florentino Ariza e seu amor incondicional por Fermina Daza, em O Amor nos Tempos do Cólera, de Gabriel Garcia Márquez, meu xodozinho devido às aulas de espanhol. Surpresa pela trama bem escrita, e a capacidade que Márquez tem de brincar com as palavras e palavrões, transformando, como Midas, a escrita em ouro; e decepção por ver a beleza de como o amor é retratado no livro e a forma como vivenciamos ele hoje em dia: O Amor nos Tempos do Tinder.


Lá nos Tempos do Cólera, pessoas como Ariza acreditavam no amor e lutavam por ele, o declarava em cartas, olhares, aventuras, mesmo que tivesse que fazer isso por longos 50 anos. Lá, um amor não servia apenas para massagear ego ou tapar buracos, era uma época de paixões intensas e sentimentos duradouros, mostrando que o amor ultrapassa barreiras, idades, doenças, tristeza e até a solidão.

Hoje, nos Tempos do Tinder, o que se vê são pessoas que clamam por amor, mas não amam ninguém e em consequência disso, acabam fazendo rodizío de suas vidas amorosas: se a alcatra não está boa, pode ser que tenhamos sorte e na próxima rodada venha filet mignon ou quem sabe até uma picanha. Já que há muita gente disponível, sempre pode vir alguém melhor! E aí reside a incoerência da nossa geração. Queremos acertar na primeira tentativa sem se dar o trabalho de cultivar o fruto do primeiro contato, do primeiro encontro. Nos acostumamos a ficar na borda só molhando os pés e reclamando que não há ninguém em quem mergulhar. Vivendo nessa ânsia de nos apaixonarmos instantaneamente, deixamos de lado um montão de coisas bobas e essenciais, como enviar e-mails, falar ao telefone com alguém por horas e horas, trocar gentilezas, ou simplesmente se sentir a vontade no silêncio do outro, e todas essas coisas que só tempo traz.


Para encerrar esse papo, garanto à você, que se o amor de Florentino e Fermina fosse nos Tempos do Tinder, ele não teria acontecido, pois, com certeza Florentino estaria com seu smartphone distribuindo matchs, e confidenciando à algum amigo a falta de profundidade das pessoas e não perceberia Femina que passava todos os dias em sua frente.




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